terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Artigo do Infomoney - Vendendo rápido demais

Gosto desses artigos sobre "psicologia financeira", então segue mais um muito interessante.

Meu perfil está dentre os seguidores do Max Gunther, em que é preferível realizar o lucro com mais antecedência. Não tenho utilizado stop gain, apenas as ordens de stop móveis. Mas como já falei em outro post, ainda não estou muito seguro se esta é a melhor estratégia.

Com os stops eu evito a tentação de "esquecer" da operação mal sucedida e acabar me "casando" com o papel.

Vamos ao artigo. Ele foi publicado no Infomoney, em 13/02/2008.

Vendendo rápido demais Por: Jurandir Sell Macedo Jr

Caro leitor, imagine que você comprou uma ação por R$ 100. Depois de dois meses, esta mesma ação já está valendo R$ 120, enquanto o Ibovespa rendeu 15% no mesmo período. Você provavelmente estaria muito contente com sua aplicação não é mesmo?

Agora imagine que um mês depois que você comprou a mesma ação ela atingiu o preço de R$ 180 e, no mês seguinte, recuou a R$ 120. Será que sua alegria seria a mesma? Segundo a Teoria da Utilidade Esperada, só o que importa é que você investiu R$ 100 e agora tem R$ 120.

Mas, na prática, sabemos que muitos investidores ficariam chateados por não ter realizado a posição em R$ 180. Inversamente, se a ação tivesse iniciado uma queda após a compra até o valor de R$ 60, para se recuperar e chegar aos R$ 120, é possível que o aplicador estivesse muito mais contente com o mesmo lucro.

Segundo as Finanças Comportamentais, formamos pontos de referência que nem sempre são nossas riquezas inicial ou final. A partir destes pontos de referência avaliamos nosso lucro ou perda. Quem investe em ações sabe que a dor de não ter realizado um lucro na hora certa é freqüentemente maior que a dor de uma perda.

Na primeira situação o investidor pode, mesmo tendo um ganho maior que o Ibovespa, estar se sentindo "burro" por não ter vendido quando a ação chegou a R$ 180. Já na segunda situação, o investidor pode sentir-se extremamente "inteligente" por não ter vendido a R$ 60, além de esperar a recuperação.

Como detestamos nos sentir burros e adoramos nos sentir inteligentes, tendemos a realizar nossos lucros muito rápido e a manter nossas perdas por muito tempo. Esta tendência é chamada de efeito disposição. O efeito disposição foi apontado, em uma pesquisa que fiz com analistas profissionais, como a maior causa de baixo desempenho de investidores individuais.

Inúmeros trabalhos científicos nacionais e internacionais já foram feitos sobre o efeito disposição. Todos eles concluem que ele é extremamente prejudicial aos investidores. Dentre os trabalhos mais importantes, destacam-se Shefrin e Statman (1985) e Odean (1998).

O efeito disposição é resultado do efeito reflexo descrito por Daniel Kahneman e Amos Tversky. O efeito reflexo é uma assimetria no modo como se tomam decisões envolvendo ganhos ou perdas. Segundo esta teoria, somos avessos ao risco quando estamos no campo dos ganhos e somos propensos ao risco no campo das perdas. A Teoria da Utilidade Esperada considera que somos avessos ao risco tanto no ganho quanto na perda.

Realizar lucros rapidamente é uma estratégia adotada por muitos jovens investidores. Esta estratégia é aconselhada por Max Gunther no livro "Os Axiomas de Zurique". Pode até ser que você seja um dos exaltados defensores dessa estratégia, mas os analistas profissionais normalmente criticam a tendência de realização de ganhos muito rápido.

Entre os investidores que ficam chateados com ações que caem de preço, são comuns aqueles que "esquecem" do investimento que não deu certo. Há também os que se enchem de coragem e dizem: "agora eu só saio desta posição com lucro". Lucro que muitas vezes nunca chega.

O nosso cérebro é uma máquina treinada para nos propiciar bem estar. Ele faz tudo que estiver ao seu alcance para que tenhamos uma vida melhor, sem sofrimentos. Também quando atuamos no mercado financeiro, este cérebro vai ficar o tempo todo buscando evitar nosso sofrimento.

Quando compramos uma ação e ela sobe de preço, o cérebro quer uma bela recompensa. Assim, se compramos uma ação por R$ 1 e vendemos o papel depois de ele subir 20%, vamos nos sentir inteligentes e alegres. Por outro lado, se compramos por R$ 1 e vendemos depois que a ação cai 20%, vamos nos sentir burros. Por isso, cérebro vai fazer tudo o possível para que não tenhamos que aceitar o erro ao vender a ação. Quem sabe possamos acreditar que nós estamos certos e que o mercado é que está errado?

Para evitar a atuação deletéria do efeito disposição, devemos sempre lembrar que o passado já passou e que o valor de um investimento está no seu futuro.

Jurandir Sell Macedo Junior é doutor em Finanças, professor da UFSC e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.

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