terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Artigo do Infomoney - Em busca do mico dourado

Antes de investir meu dinheiro em alguma ação, eu sempre busco conhecer um pouco da situação financeira da instituição. Para meu perfil de investimento, em que fico poucos dias comprado com uma ação, este critério poderia ser dispensável. De qualquer forma, eu prefiro ficar de fora dos micos, mesmo que com isto eu perca a chance de fazer muito dinheiro em uma boa especulação.

Kepler Weber, Telebrás, Tec Toy, Docas Imbituba e tantas outras por aí que rendem boas especulações, com possibilidade de dobrar o capital em poucos dias. Mesmo assim prefiro ficar de fora. Já operei em papéis deste tipo, mas hoje vejo que o risco não vale a pena.

Não condeno quem opera com estes papéis, afinal cada um tem sua própria estratégia. Mas eu não tenho condições para operar com eles. Onde condições pode-se entender como tempo disponível para acompanhar e aspectos psicológicos para suportar as grandes oscilações que são comuns nos "micos".

O artigo abaixo foi publicado no Infomoney no dia 18/01 e traduz bem meu pensamento a respeito. A analogia com o cunhado pedindo dinheiro emprestado é ótima!

Em busca do mico dourado Por: Márcio Santos

Fico impressionado com o comportamento das massas. No mercado existe uma máxima de que "toda unanimidade é burra". Isso é fato. Estatística.

Uma enxurrada de Ofertas Públicas, IPOs ou aberturas de capital, de empresas com preços superavaliados, com nota zero de preocupação com o acionista e perspectivas de crescimento nebulosas e que são sucesso absoluto de procura. Então, a turma do oba-oba vira sócia de empresas sem saber o que ela produz, quanto mais se dá lucro ou prejuízo.

Imagine a cena: seu cunhado entra em sua casa e diz que precisa que você financie um projeto que ele tem em mente. Imediatamente você saca o talão de cheques e coloca todas as suas economias na mão dele sem ao menos perguntar do que se trata, quanto tempo vai levar pra ter o dinheiro de volta, o que vai produzir e se vai dar lucro. Ou pergunta pra sua mulher: - "Amor, esse negócio é bom?" Sinto dizer, mas, nos dois casos, você estará exposto ao risco total: perder todas as suas economias.

Vai contar somente com o fator sorte. Em administração de patrimônio sorte é uma palavra que não existe. Isso está acontecendo de forma costumeira no mercado de hoje. Comprar qualquer coisa sem noção do risco que corre.

Bom senso e canja de galinha não fazem mal a ninguém, não é?

Então bote na cachola que só devemos ser sócios, comprar ações de empresas que tenham expectativa de gerar lucros crescentes. É a única forma de ganhar dinheiro no mercado no médio e longo prazo.

Se você tem uma boa avaliação do valor de uma empresa, consegue suportar as oscilações de preços no curto prazo. Isso mesmo. Valor é diferente de preços.

Mas a correria desenfreada está atrás dos preços, da busca do papel dos sonhos, daquele que não subiu, do baratinho, da "diquinha esperta".

A falta de conhecimento econômico básico e de bom senso atiça a cobiça dos novos investidores. Não é pra menos, vira e mexe aparece uma Telebrás que sai de 0,05 e vai a 0,95. Daí correm pra achar outra dica esperta e compram Kepler a 6,30 e acabam vendendo a 0,40.

Acreditam que, com a moda, as melhores dicas são as ações das próprias Bolsas, Bovespa e BM&F, e investem no que supõem ser uma alta sem fim, e acabam com o estômago grudado nas costas quando vêem as ações em queda livre.

Buscar o mico dourado é mais uma questão de investir conscientemente na recuperação de uma empresa que está em fase ruim. Mas isso requer técnica, persistência, disciplina e tolerância enorme às perdas.

Adotar a postura de comprar qualquer coisa e pensar que ações de empresas são todas iguais e que o tempo se encarrega de fazer seu dinheiro render é o mesmo que o "avestruz" faz: esconde a cabeça em um buraquinho e fica de nádegas expostas.

Lembre-se que, se tivesse comprado há alguns anos, Casa Anglo Brasileira (Mappin), Banco Nacional, Banco Auxiliar, Sharp e tantas outras visando somente o longo prazo, desprezando qualidade, hoje teria somente saudades do seu dinheiro.

Márcio Santos é diretor da corretora Gradual e escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.

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